domingo, 24 de maio de 2009

Geber - o pai da Química

A química, essa ciência que conhecemos hoje, veio de uma evolução da Alquimia. Para efeitos históricos, precisamos de um marco, algo que defina um ponto de transição. Para alguns, a Química surge com Boyler. Para outros, Lavoisier. Para outros ainda, a Química nasce com Geber.

Abu Musa Jābir ibn Hayyān ou Jabir ou Geber (nome latinizado) nasceu em 721 D.C. (Tus, Iran) e morreu em 821 D.C. (Kufa). Algumas fontes dizem que ele era persa e outras, árabe. Foi químico e alquimista, astrólogo e astrônomo, geólogo, farmacêutico, físico e fisiologista. Essas duas últimas áreas correspondem ao período do Islã medieval. Foi um alquimista prático e sistemático e deu muitas contribuições que ainda são usada até hoje pelos químicos.

O método sistemático

Graças ao seu experimentalismo sistemático, ele ajudou os alquimistas a se livrarem do misticismo e superstições envolvidos nos processos alquímicos. São de Geber as seguintes palavras:

"A coisa primordial na alquimia é que se pode realizar trabalhos prático e conduzir experiências. Quem não faz trabalhos práticos nem faz experiências nunca dominará a alquimia."

É importante lembrar que ele fazia parte de uma escola, isto é, de uma linha de pensamento da época. A partir desse ponto a Química surge como ciência e a Alquimia toma o posto de protociência.

Nota 1: Protociência é a ciência que tem experimentação e reprodutibilidade mas sem um método científico. No caso, a Química (ciência) derivou da Alquimia (protociência). Pseudociência é a ciência que tem experimentação e não há reprodutibilidade mas possui um método científico. Um exemplo é a Astronomia (ciência) que derivou da Astrologia (pseudociência).

Nota 2: Alquimia vem do francês arcaico alquemie, que vem do árabe al-kimie que significa "A arte da transformação". Assim, Química vem de kimie que significa "transformação".

A respeito do título de pai da química, outros dizem que foi o irlandês Robert Boyle (25 de janeiro de 1627 - 30 de janeiro de 1691) com a publicação do livro The Ceptical chymist (obra disponibilizada aqui pelo projeto Gutenber) publicado em Londres em 1661 que entre outros assuntos fala da teoria da colisão atômica e defende o rigor na experimentação científica. Outros ainda dizem que foi o francês Antonie Lavoisier (26 de agosto de 1743 - 8 de maio de 1794) com a publicação do livro Traité Élémentaire de Chimie (Elementary Treatise on Chemistry), 1789. Esse é considerado o primeiro livro moderno de química. Nele Lavoisier apresenta a teoria da conservação das massas e abandona a idéia do flogisto.

Geber também acreditava na idéia das proporções entre os reagentes.

Os instrumentos

À ele é dado o crédito de alguns instrumentos usados até hoje pelos químicos. Entre eles o alambique, do árabe al-inbiq, que veio do grego ambix e que significa copo. Foi o instrumento de destilação dos alquimistas e de químicos. Basicamente, são dois retortos (condensador primitivo visto em muitas ilustrações) conectados. Tecnicamente, alambique é somente a parte superior mas é comumente usado para designar todo o aparto de destilação. A versão moderna é chamada de Still usado nas destilarias.

Com o alambique, Geber extraiu o espírito do vinho e chamou-o de al-kohl que passou a se chamar álcool. Al-khol era o termo usado para obter algo por sublimação. Também era um pó fino a base de antimônio que era usado no Egito antigo com finalidades estéticas pelas mulheres. O termo foi usado posteriormente também para o processo de destilação.

Nota: Usarei a palavra espírito no texto por questão histórica mas tendo bem claro que se refere a algo que está na forma de vapor, gás e etc.

Nota: O al que aparece na frente de muitas palavras árabes é um tipo de artigo como o The no inglês. Na verdade é a letra a. A letra l é usada para harmonizar a fonética.

Substâncias e elementos descobertas

A importância dele cresce com a lista de substâncias químicas que ele isolou. Ele descobriu o vitriol (ácido sulfúrico) pela destilação seca do sulfato de ferro II heptahidratado ou do sulfato de cobre pentahidratado. Na decomposição térmica gerava-se os óxidos dos metais, vapor d'água e o tróxido de enxofre. Os dois últimos eram recolhidos e formam o ácido sulfúrico. Na Europa medieval o vitriol era conhecido entre os alquimistas como óleo de vitriol, espírito do vitriol ou simplesmente vitriol. Existiam diferentes tipos de vitriol dependendo do tipo de cristal de sulfato: vitriol azul ou romano (de cobre II), vitriol branco (de zinco), vitriol verde (de ferro II), vitriol de Marte (ferro III) e vitriol vermelho (de cobalto).

Ele descobriu o ácido clorídrico destilando o vitriol (ácido sulfúrico) com sal comum (cloreto de sódio). Descobriu o ácido nítrico destilando ácido sulfúrico com sal a base de nitrato de sódio ou potássio (fontes: niter ou nitre, saltpetre, saltpeter). Da mistura de ácido clorídrico e ácido nítrico criou a água régia que tinha o poder de dissolver o ouro. Essa última teve grande importância na purificação de minerais.

Também foi dado a ele o crédito de ter descoberto o ácido cítrico (extraído do sumo das frutas cítricas), ácido acético (do vinagre) e ácido tartárico (do vinho) usando sua aparelhagem como o alambique.

Alguns elementos químicos também foram descoberto por ele como o Arsênio, Antimônio e Bismuto. Ele também foi o primeiro a isolar, purificar e classificar o de enxofre e o mercúrio líquido com elementos puros.

Ele propôs uma classificação em três categorias: espíritos, metais e não maleáveis (corpo ou mineral).
  • Espíritos: arsênio, cânfora, mercúrio, enxofre, sal amoniacal e cloreto de amônio.
  • Metais: ouro, prata, chumbo, estanho, cobre, ferro e khar-sini (mercúrio na forma de espírito ou vapor).
  • Não Maleáveis: Qualquer coisa que possa ser transformada em pó: alguns espíritos extraídos de algumas pedras, rochas ou minérios como malaquita, lápis azúlis, turquesa, mica, etc. Outras com pouco espírito como conchas, pérolas e vitriol e outras ainda sem espírito como onix, poeira e vitriol envelhecido.
Conclusões

Com certeza, a química que conhecemos hoje deve muito a esse alquimista/químico. Pouco ou nada de fala dele nos cursos de química e nos livros didáticos. Muitos termos são usado hoje que vem de suas contribuições e origem. Para os dias de hoje, saber a origem das coisas é mais cultural do que prático. No entanto, acredito, história é tão importante quanto a prática. As coisas não surgiram do nada e tem uma origem. Conhecendo suas origem compreenderemos melhor o que estamos fazendo.

Estou certo que esse texto será útil para os leitores como foi para mim durante o seu desenvolvimento. Estou aprendendo muito nessa minha investigação história descompromissada. Com certeza aparecerão ponto duvidosos e outros discordantes. No entanto, o texto tem seu valor por trazer à luz pontos antes esquecidos ou colocados em um plano de menor importância.

Referências

O segredo da boa pinga
http://www.fundep.br/homepage/cases/435.asp
Foto de dois alambiques.

Benefícios da utilização do cobre
http://www.copper-alembic.com/manufacturing/cobre.php?lang=pt
Fala das propriedades antibactericidas, boa condutividade térmica e benefícios na produção de bebidas fermentadas.

Al-Kimia
http://dererummundi.blogspot.com/2007/05/al-kimya.html

Árabe se escreve com "a"
http://www.sualingua.com.br/02/02_arabe.htm
http://mundoestranho.abril.com.br/cultura/pergunta_285881.shtml

Development of the Periodic Chart
http://homepage.mac.com/dtrapp/periodic.f/alchemy.html

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